Ética Ambiental: Ecocrítica, Ecomídia, Jornalismo Ambiental: convergência e diferença

Fevereiro de 2018

Os três campos certamente compartilham do que Edgar Morin chama de policrise. A crítica ambiental no panorama de um novo paradigma não dispensa discussões de problemas políticos, sociais, culturais, ecológicos e econômicos convergentes entre si (o mexicano Enrique Leff legitima isto, ao tratar de meio ambiente na América Latina). E uma análise mais apurada e interdisciplinar valoriza até mesmo as contribuições de mais de uma dessas áreas, neste caso, obedecendo à estética e à estilística de cada uma delas. Primeiro, tratemos dos paradigmas da ecocrítica, ecomídia e do jornalismo ambiental.

A ecocrítica inaugurou uma tradição a partir da qual se considera a subjetividade da natureza, de seus ecossistemas, dos animais e dos vegetais, convergindo seus propósitos às perspectivas da ecologia profunda; segundo Greg Garrard, essa crítica literária é atenta ao meio ambiente como ele é e como o representamos. O teórico da ecomídia Sean Cubitt compartilha desse paradigma ao legitimar as ideologias nas narrativas cinematográficas capazes de mediar o que a natureza é e o que somos para ela. Já o crítico brasileiro Wilson Bueno enumera as funções do jornalismo ambiental: política, ecológica e informativa; em seu caráter político, essa especialidade jornalística reforça seu propósito engajado de denúncia, pois uma floresta, um animal e uma árvore também são dignos de respeito e proteção.
  Assim, os três modelos teóricos provenientes da crítica literária, cinematográfica e midiática têm em comum o deslocamento entre o olhar sobre o meio ambiente e a partir dele, rompendo a visão contaminada do antropocentrismo, cujo paradigma coloca o homem no centro do universo e detentor das potencialidades naturais, rumo ao biocentrismo. Este reconhece uma ética plural em favor de todos os seres animados e inanimados.


A diferença está justamente nos modos de ver da literatura, do cinema e do jornalismo. No caso da crítica literária, falamos no olhar do narrador e dos personagens, os quais podem ser sujeitos não humanos, e os discursos provenientes deles. A câmera subjetiva enquanto recurso de câmera forja os olhos dos personagens e do narrador na narrativa cinematográfica, seja na ficção ou no documentário. A angulação jornalística é a prática pela qual o jornalista seleciona fontes e entrevistados a fim de coletar testemunhos oculares sobre determinado fato. O discurso potencialmente ideológico surge nos três tipos de narrativa; as metáforas e alegorias, os recursos de câmera e de montagem, as técnicas de edição e a hierarquia discursiva as diferenciam. A narrativa ambiental, no entanto, dilui fronteiras e pode ser rica em tratamento objetivo e subjetividades; uma reportagem pode conter estilo literário, em um romance cabem características factuais, num filme encontramos metáforas visuais e informações, principalmente no gênero documentário. Se quisermos tratar de policrise de modo inter e transdisciplinar nos modos de Edgar Morin, devemos ser livres e abertos ao futuro da salvação do planeta aqui e agora, sem amarras!


Referências bibliográficas

BUENO, Wilson da Costa. Comunicação, jornalismo e meio ambiente: teoria e pesquisa. São Paulo: Marajoara, 2007.

CUBITT, Sean. Ecomedia. New York; Amsterdãm: Rodopi, 2005.

GARRARD, Greg. Ecocrítica. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2006.

LEFF, Enrique. Saber ambiental. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

MORIN, Edgar. Terra-pátria. Porto Alegre: Sulina, 2003.

Revisão: Ana Lúcia de Sena Cavalcante

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