Mitigação: Sobre livros, vaidades e urgências humanas


Junho de 2018

O ser humano é vaidoso, acredita que sempre terá soluções relacionadas às suas crises. Professores universitários também são vaidosos e acreditam apenas nos livros que leem. Professores de jornalismo desconsideram o aumento de público e o valor de denúncia do livro-reportagem, mesmo já lendo uma biografia ou um ensaio escrito por um jornalista. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) na contramão disso selecionou quatro trabalhos de conclusão de curso sobre a reportagem em formato livro dentre os sete aprovados para apresentação em seu evento anual. Tendo em vista a importância desse tipo de produção, o curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Roraima reconsiderou o potencial do jornalismo de longa extensão em formato livro e aprovou a disciplina sobre essa produção no último Projeto Pedagógico, seguindo recomendação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo.

Os livros-reportagem têm cumprido o compromisso de apontar as tragédias ambientais de nosso tempo: as atuais e as projetadas a um futuro próximo. Os brasileiros Claudio Angelo e Sônia Bridi baseados em pesquisa aprofundada e depoimentos de fontes internacionais respeitáveis denunciam a crise da água em alguns países como África do Sul, Brasil, Estados Unidos, Índia e a previsão do aumento do nível dos oceanos devido ao descongelamento das geleiras nos pólos ártico e antártico. O aquecimento global causado por causas humanas já é uma realidade desde a segunda metade do século XX, mas o homem insiste em procurar soluções paliativas para se adaptar em vez de recuar em determinados hábitos e comportamentos poluidores e responsáveis por degradar o meio ambiente. A Amazônia e seus ecossistemas não vão suportar o aumento de 3°C. As pessoas dependem de carro porque o serviço de transporte público é precário, no entanto, sobrecarregam as matrizes energéticas com excesso de produtos eletrônicos para garantir certo conforto doméstico. Os países prorrogam decisões concretas de mitigação, através das quais evitariam certas atitudes governamentais economicistas e muito pouco ecológicas. A economia sustentável implica numa falácia de que a adaptação pode ainda salvar a humanidade do caos progressivo e completo.

Autores de livros-reportagem também são vaidosos. O americano McKenzie Funk aposta na adaptação às mudanças climáticas via bioegenharia, inclusive vislumbrando a moradia nos oceanos em caso de aumento de nível das suas águas. De fato, as vaidades se sobrepõem aos sentidos de urgência. Uma noite sonhei com um planeta sem água, porém já caminhamos em direção ao pesadelo do fim da humanidade e das espécies animais e vegetais. Quem está disposto a abrir mão do conforto em favor do seu futuro, do futuro coletivo e global? Mesmo sem responder a este desafio, pesquisadores nutrem suas vaidades e são capazes de pensar na criação de novos cursos superiores a exemplo de geoengenharia climática. Contudo atenção: essa assertiva não deve ser encarada como uma sugestão.

Simão Farias Almeida

Revisão de Ana Lúcia de Sena Cavalcante

Referências bibliográficas

ANGELO, Claudio. A espiral da morte: como a humanidade alterou a máquina do clima. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. 520p.
BRIDI, Sônia. Diário do clima: efeitos do aquecimento global: um relato em cinco continentes. São Paulo: Globo, 2012. 304p.
FUNK, McKenzie. Caiu do céu: o promissor negócio do aquecimento global. São Paulo: Três estrelas, 2016. 359p.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Edital de seleção de narrativas ambientais para e-book