Prudência: Tirem seu refri de “nossa” vitória-régia

Setembro de 2018

Fazer turismo no Brasil, se deparar com algum espaço físico e social poluído por lixo abandonado em local impróprio, não pode se tornar numa cena corriqueira. As cidades deveriam ser responsabilizadas financeiramente, ao apresentar seus cartões postais diferentes daqueles exibidos nos canais de TV e nos sites da internet, e a indenização revertida em verba destinada à preservação de seus próprios ecossistemas naturais. A rede turística é considerada uma indústria limpa a qual precisa ter o compromisso de zelar pela natureza por parte de qualquer um de seus colaboradores.

O passeio feito a uma comunidade próximo ao encontro das águas dos rios Negro e Solimões em Manaus impactou devido a uma paisagem indesejada. Um turista não se contentou com a beleza de uma vitória-régia e abandonou sua latinha de refrigerante sobre ela, provavelmente, como forma de se apropriar de todo o ecossistema no entorno. É fato antigo os seres humanos dominarem os espaços naturais de modo físico ou simbólico, contudo, isso se torna mais problemático nos dias atuais quando as universidades, as escolas, os livros e os meios de comunicação ressoam o compromisso comum da sustentabilidade. A ética ambiental precisa ser massificada para adotarmos individualmente e socialmente a ideia da planetaridade, de cuidado do nosso planeta, por meio da qual a “minhadade” não implica em dominação e sim, inclui o sentido ético de a natureza ser a extensão de nossos corpos também necessitados de cuidados.

Segundo a filósofa pós-colonial Val Plumwood, a prudência deve passar pela recusa de atribuir posse humana ao meio ambiente, visto não por meio do dualismo racionalista homem/natureza, mas através de um agenciamento ético que fala e trabalha pelos seres animados e inanimados sem voz e pensamento. A agência ambiental nutre propósitos de solidariedade ao reconhecer os seres não humanos diferentes de nós e, ao mesmo tempo, tendo direitos iguais a nós. Somos todos planeta Terra e temos necessidades de preservação distintas.

O abandono de marcas de produtos e de agentes públicos na natureza é real e simbólico. Nossos representantes políticos têm a responsabilidade de cuidar dos ecossistemas brasileiros e dos seres não humanos. No entanto, vemos muitos deles se apropriando das ideias de conservação e preservação sem compromissos históricos efetivos e com alianças econômicas escusas. Eles parecem o turista sujando a floresta valendo-se de ilusórias promessas, de bem estar, como o refrigerante que oferece um prazer imediato, todavia, destroi lentamente seu organismo.

Os candidatos a presidente nessas eleições de 2018, propõem medidas ecológicas comuns às ações dos futuros ministérios ou parecem se engajar contra as mudanças climáticas, porém estão compactuados com o propósito neo-liberal dos grandes bancos internacionais ou nacionais, as parcelas fundamentalistas da sociedade e as mensagens de ódio supremacista humano, masculino e branco não solidárias à democracia ambiental. O melhor candidato para o meio ambiente é aquele que valoriza o bem estar de todas as classes, as raças e os gêneros, a ecologia profunda de todos os seres, legitimando as atividades microeconômicas sustentáveis dos movimentos sociais e das comunidades tradicionais, mais próximas e mais cuidadosas com os espaços naturais. É necessário perceber os candidatos forjados de preservadores ecológicos e ter a responsabilidade social e ambiental nos dias de votação de não eleger um representante imprudente. Vamos ecoar contra os falsos profetas: “Tirem seu refri de nossa vitória-régia!”.

Simão Farias Almeida

Revisão de Ana Lúcia de Sena Cavalcante

Referência
PLUMWOOD, Val. Environmental Culture: the ecological crisis of reason. New York: Routledge, 2002.

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